Ana Rosa - Roxanne

O creme hidratava o ar do quarto com cheiro a baunilha.Ana Rosa esticava delicadamente as meias de rede. Pretas com brilhantes. De perna erguida, sentada na cama recordava – os faróis dos clientes que acendiam as lantejoulas e o desejo. No fundo até gostava da atenção.

As suas pernas esguias faziam sucesso todas as noites.Entretia-se a escolher o batom que melhor combinava com a cor do seu vestido

“You don’t have to wear that dress tonight”

Ele não conseguia compreender. Uma mulher tem de fazer pela vida. Não conseguia aceitar a ideia de viver às custas de um homem. E arranjar um emprego medíocre a ganhar pouco, não era para ela. Era ambiciosa. Gostava de ir às compras na Avenida da Liberdade. Dos produtos de beleza. No fundo até gostava da atenção.
Dos olhares que a seguiam.

“So put away your makeup”

A sua mãe sempre lhe tinha dito – o que é bom é para se ver – e ela cumpria. Todas a noites mostrava o que tinha de melhor. E até gostava da atenção.

“I won't share you with another boy”

Mas para ele não. Não a queria partilhar. Logo ela, que era de ninguém.
Vinha com a conversa do Amor. – Amor? O que é isso? – Ana Rosa acedia-lhe ao pedido. Olhava-o nos olhos – no fundo, no fundinho – mas só via a auréola preta. Não via o Amor, nem Alma. Só preto. E o olhar dele seguia-a. Ela gostava, especialmente da atenção.

"You don't have to put on the red light”

Calçava as botas de salto. Estava pronta para mais uma noite de trabalho. Ou diversão. Tudo dependia da perspectiva. Já o tentara explicar-lhe, mas ele não ouvia. Não queria saber.

“You don't have to sell you body to the night”

Ana Rosa no fundo só gostava da atenção.


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