Chuvas


Quando temos a alma a esvaziar, quase vazia de tantos buracos, vem a chuva. E sentados no sofá, o som de cada gota, parece encher pouco a pouco a alma vazia. Vazia não, quase vazia!
Almas quase vazias são como o sol em dias chuvosos, que vai e vem como lhe apetece. Ora ilumina com mais força, enchendo-a mais depressa, como desaparece e dá as boas vindas ao granizo.
Mas o granizo é lixado, se vier com força, faz mais buracos. Se for mais gentil, talvez tape uns quantos.
Ainda agora começou esta época, a das chuvas, por isso com sorte ainda a consigo encher até ao final do ano.
Resta-me esperar para saber se vai haver gotas suficientes, se o granizo vai ser gentil e se a alma vai continuar vazando lentamente pelos seus buracos. Os da vida.

Melhores dias virão


Hoje brindo aos dias que correram bem. Aos dias que, por um motivo que desconheço, começam e acabam em paz.
Nas alturas conturbadas é difícil sentir o cheiro e aquecer com essas recordações.
Sinto-me cansada… das noites mal dormidas, dos dias sombrios de más novas. O amarelo do sol parece-me acinzentado e não aquece.

Largo os meus queixumes à confidente habitual.  “Vou-te enviar boas energias hoje!” – diz-me ela.
E nada! A energia que circula no meu corpo continua a ser a mesma depressiva e esgotante de há uns meses a esta parte.

Será tudo isto um sinal para me entregar à tristeza? De tanto estar com ela, ela há-de se cansar e deixar-me, certo?

Um brinde a esses dias… os que corriam bem.
Já quase vejo o fim da garrafa e os números das horas misturam-se com os dos minutos.

É hoje que vou dormir bem. Tchim tchim!