Quero morrer num dia de chuva. De céu cinzento e carregado,
onde nas ruas reinem as poças e os chapéus-de-chuva pretos.
Que se acendam as velas com dificuldade pelo vento que sopra
sorrateiro. Que os calafrios se confundam entre almas penadas e rajadas da
nortada.
Quero morrer num dia de chuva.
Não quero estragar um dia de céu doirado e pôr-do-sol rosa carmim.
Quero os meus vivos reunidos no átrio frio da igreja com os
pés molhados, vento a uivar e quero um trovão a soar na rua. Que voem
lembranças de aquecer corações.
Quero morrer, mas tarde.